lunes, 9 de abril de 2012

VISITA POCO PRACTICA DE DILMA A USA - EN EL MARCO DEL ENCUENTRO DE DILMA CON OBAMA

9/03/12
A visita em curso da presidente Dilma Rousseff aos EUA é uma boa oportunidade para alguns rabiscos estratégicos. Antes, um brinde à presidente brasileira e pode ser feito com cachaça, pois esta preferência nacional terá o acesso facilitado ao mercado americano, em uma vitória para os interesses comerciais do Brasil. Dilma Rousseff não parece fazer onda pública sobre o tal downgrade da visita, ou seja, não ser tratada com gala e jantar faustoso na Casa Branca. A viagem é de negócios, destinada a aprofundar parcerias e aceitar que existem divergências naturais mesmo entre aqueles que são considerados aliados naturais. Atitude madura para a pragmática dirigente de um país emergente, embora não existam grandes expectativas sobre esta visita.

Barack Obama é um dirigente negligente sobre América Latina, ainda mais do que antecessores, e não formulou uma química de relacionamento pessoal com Dilma Rousseff, mas os fatos estão aí. O Brasil é sexta economia mundial, o quarto detentor de títulos da dívida pública americana (US$ 229 bilhões) e um mercado importante para empresas americanas (e este presidente não se cansa de enfatizar a necessidade de geração de empregos num ano eleitoral). Ademais, é uma democracia, ao contrário do superemergente chinês.

Do lado brasileiro, existem ranço antiamericano e um sentimento pavloviano na política externa, que resultam em posturas vexaminosas como o respeito conferido pelo governo Dilma à ditadura cubana ou falta de rigor com o regime carniceiro no poder na Síria, em nome da lenga-lenga de não-intervenção. No entanto, não há mais aquele exibicionismo da era Lula, que levou a encrencas como a mediação brasileira na crise nuclear iraniana e voto contra sanções, aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU. Aliás este protagonismo lulista é um dos motivos para a esnobada americana. Washington não conferiu o status de visita de estado à viagem de Dilma, pois ainda existe rescaldo de irritação com o teatro diplomático do governo anterior.

Mas há também incoerência na postura do governo Obama. Ok, a superpotência se irrita com gestos independentes de potências emergentes como o Brasil, mas existe mais tolerância com o comportamento de um emergente como a Índia, que atravessa muito mais os interesses americanos do que o Brasil com seu protecionismo comercial e íntimo relacionamento com o Irã. No entanto, Obama conferiu ao primeiro-ministro Manmohan Singh o status de visita de estado quando ele apareceu em Washington e endossou formalmente a aspiração indiana para se tornar membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, algo até agora negado ao Brasil.

Numa zona extremamente quente do mundo (onde estão Irã, Paquistão, Afeganistão e a China), os americanos têm se empenhado desde o governo Bush para consolidar uma parceria estratégica com a Índia, um país com uma tradição pavloviana antiamericana. Os EUA engolem os dissabores, como a fúria que esta intimidade com a Índia provoca em outro aliado complicado, e nuclear, que é o Paquistão. E não custa lembrar que, apesar da nova intimidade, a Índia, como é o caso do Brasil, se alinha com os EUA em menos de 25% das votações nas Nações Unidas. Está bem, vamos reconhecer que, além do seu imenso potencial econômico, a importância geopolítica da Índia já é impressionante.

O essencial no raciocínio é que, na devida medida, também existe o potencial para que se seja concretizado um relacionamento estratégico entre Brasil e EUA. Obviamente não se trata de alinhamento automático. O mundo está mais multipolar e países emergentes como Índia e Brasil, embora sejam democracias estáveis (e corruptas), não estão e nunca estarão totalmente afinados com o projeto de modernização ao estilo americano, professando mais entusiasmo em dirigismo econômico. Viva o BNDES! (leitores distraídos, a última frase é uma ironia!).

Mas nestes rabiscos estratégicos, o ponto a destacar é que tanto EUA como Brasil estão cada vez mais conscientes das complexas relações bilaterais que ambos mantêm com o superemergente chinês. Logo o aprofundamento de relações Brasília-Washington é, na formulação óbvia, conveniente para ambas as partes. Os EUA precisam de contrapontos ao avanço chinês e o Brasil age corretamente com uma política de triangulação com Washington e Pequim. O Brasil receia cada vez mais se tornar um escravo da exportações de commodities para a China e de importações de bugigangas daquele país. Do outro lado do espectro, em meio a mais uma onda de conversas sobre o declínio do império americano, a máquina global ainda precisa desta “velha locomotiva” que sempre surpreende pelo pique renovado.

O negócio, portanto, é mesmo apostar no capital americano em alta tecnologia, educação, como no programa Ciência Sem Fronteiras de bolsas de estudos para brasileiros nos EUA, inovação e mais comércio. Seria ótimo um tratado bilateral de livre-comércio (só um sonho). Seria uma maravilha um Brasill menos antiamericano, assim como uma superpotência mais ciente da importância brasileira. A realidade bilateral está longe de ser uma desgraça, apesar dos contenciosos, mas falta muito respeito mútuo.

Art.Caio Blinder

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