sábado, 9 de octubre de 2010

GUERRA DAS MOEDAS

Mantega e Meirelles defendem acordo global sobre câmbio / Luciana Coelho e Andrea Murta
Nos EUA, onde ocorre a reunião do FMI, brasileiros dizem ser a favor de entendimento até o encontro do G20, em Seul. Brasileiros fazem crítica cautelosa à China, sua aliada em encontros globais e principal alvo de pressão mundial.
As duas principais autoridades econômicas brasileiras defenderam em Washington um acordo multilateral sobre câmbio.
A ideia é que os países atuem de forma sincronizada para regular suas divisas e evitar o que o ministro Guido Mantega (Fazenda) chamou de "guerra de moedas".
Mas, enquanto o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, dizia que tal acordo era "desejável", mas pouco provável no curto prazo, Mantega se dizia otimista. Os dois estão na capital americana para a reunião do Fundo Monetário Internacional.
Segundo Meirelles e Mantega, no entanto, o fórum mais adequado para um acordo seria o G20, e não o FMI. Os chefes de Estado do grupo de 20 dos países mais ricos do mundo se reúnem em novembro em Seul.
"Podemos ter algo parecido com os acordos Plaza", disse Mantega, citando o pacto para reajustar as moedas, fechado em 1985 por Japão, EUA, França, Reino Unido e Alemanha Ocidental.
Os brasileiros insistiram que o problema maior não é o câmbio em si, mas sim o excesso de liquidez em dólares trazido pelas medidas para mitigar a crise em contraposição à alta taxa de poupança dos chineses.
"É diferente das crises do passado, resultado de câmbio controlado, moeda desequilibrada, excesso de endividamento em dólar", afirmou Meirelles.
O recado que ecoa do Brasil é que é apenas para "se defender" que os demais países intervieram no mercado.
Meirelles sinalizou que o BC continuará a atuar -o dólar está em R$ 1,667, menor valor em mais de dois anos. "O que não pode é o Brasil pagar um preço excessivo pelo fato de estar indo bem, enquanto outros estão mal."
O presidente do BC disse ainda ser cedo para calcular o efeito do aumento desta semana na alíquota do IOF para estrangeiros.
Entendimento
Meirelles elencou três passos para um acordo: "Promoção de consumo doméstico, expansão de demanda doméstica por parte dos países que estão mostrando excesso de poupança e baixo consumo, e equilíbrio de maior poupança dos países com excesso de consumo".
O discurso brasileiro não deixa de mencionar constantemente o papel americano na crise. Mas tem sido cautelosamente crítico à China, sua aliada em grupos plurilaterais de negociação.
Analistas e autoridades americanas têm afirmado que o Brasil é menos vocal do que poderia na pressão para a China valorizar o yuan.
O discurso que tem sido repetido também nos outros principais fóruns globais é o de que os emergentes devem assumir mais responsabilidades. Os emergentes dizem que ainda precisam de espaço para se desenvolverem.

GUERRA CAMBIAL DESIQUILIBRA O COMERCIO EXTERNO BRASILEIRO

ECONOMIA - Especulador George Soros confirma tese de Mantega sobre guerra cambial / Fernando Eichenberg com Agências Internacionais
Ministro da Fazenda defende que países ricos retomem estímulo fiscal.
Em sua campanha contra a guerra cambial no mundo, o ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, ganhou ontem um aliado inesperado: o megainvestidor - e especulador - George Soros.
Em artigo publicado ontem no jornal britânico "Financial Times", Soros afirmou que, quando Mantega diz que há hoje a guerra no câmbio latente, "não está longe da realidade".
Soros - que ficou conhecido como "o homem que quebrou o Banco da Inglaterra" ao lucrar US$ 1,1 bilhão com a desvalorização da libra, em 1992 - disse estar preocupado com o desalinhamento das moedas. Para ele, a solução para a crise está nas mãos da China, "que emergiu como líder global".
Mantega critica China por acumulação de reservas Em Washington para a reunião anual de Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (Bird), Mantega acusou ontem os países ricos de adotarem políticas equivocadas depois da crise financeira e favorecerem a guerra cambial. Para ele, países como Estados Unidos e Alemanha deveriam abandonar políticas monetárias agressivas - com baixas taxas de juros e injeção de recursos na economia - e retomar o estímulo fiscal para incentivar a criação de empregos e o consumo doméstico.
- A guerra cambial é um subproduto da lenta recuperação econômica em países avançados - disse Mantega.
- É a política do salve-se quem puder, jogar o problema para os outros. É preciso recolocar a política fiscal de estímulo direto à demanda e à criação de emprego, em vez de usar a guerra cambial, que nada mais é que uma disputa de mercados, que leva ao conflito comercial e ao protecionismo.
Mantega também criticou o comportamento da China, com sua "política de compra de reservas e limitação de capital estrangeiro, sem permitir a valorização de sua moeda". Ele vai levar essas questões hoje à reunião do Comitê Monetário e Financeiro Internacional (IMFC): - O fato de eu falar em guerra cambial chocou algumas pessoas. Só mencionei algo que já existia, mas era deixado debaixo do tapete. Agora já estamos discutindo abertamente o que é hoje a principal pauta da agenda econômica.
Reforma do FMI não beneficia totalmente os emergentes O ministro acredita na possibilidade de discutir um acordo coletivo na reunião do G-20 (que reúne as principais economias industrializadas e emergentes) em Seul, em novembro. Também em Washington, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, expressou preocupação com a guerra cambial, que está provocando desequilíbrios no mundo: - Este é um problema sério.