O que Fazer Nesta Crise? (Por Stephen Kanitz)
Toda crise tem sete fases:
Fase 1. Não há problema na economia, diz a autoridade econômica, é tudo
boato.
Fase 2. Sim, temos um problema, mas tudo está sob controle.
Fase 3. O problema é grave, mas medidas corretivas já foram tomadas.
Fase 4. O problema é muito grave, mas as medidas emergenciais surtirão
efeito.
Fase 5. Pânico geral e salve-se quem puder.
Fase 6. Comissões de inquérito e caça aos culpados.
Fase 7. Identificação e prisão dos inocentes.
Os Estados Unidos e a Europa estão na fase 5. Brasil, China e Índia estão na
Fase 3. Precisamos nos proteger contra a possibilidade de chegarmos à Fase
5, quando basta um entrevistado na televisão afirmar "que esta crise é igual
ou pior que a de 1929", como vários já falaram, ou escrever no jornal "as
conseqüências da crise chegaram definitivamente no Brasil", como já foi
publicado, e gerar pânico por aqui.
Não, a crise ainda não chegou ao Brasil, ainda estamos na Fase 3 e mesmo se
crescermos 0% este ano, o que ninguém prevê, toda empresa irá vender a mesma
coisa no ano que vem. Sua promoção pode estar em risco, mas não o seu
emprego.
Ademais esta crise nada tem a ver, nem terá, com a severidade da crise de
1929, quando 25% dos trabalhadores perderam seus empregos e que durou até
1940 com 14%. Na pior das hipóteses, o desemprego nos Estados Unidos
aumentará 3%, mesmo assim só por 24 meses.
Se tivessem líderes administrativos socialmente responsáveis, eles já teriam
ido a público garantir que manteriam o nível de emprego de suas empresas nos
próximos 12 meses. Hoje custa mais para se treinar um novo funcionário do
que para mantê-lo fazendo algo por 12 meses.
Depois que Alan Greenspan e Nouriel Roubini saíram dizendo que a crise era
igual à de 1929, todos os americanos pararam de gastar, aumentando sua
poupança e prevendo o pior. Ninguém sabe quem serão os 25% de
desempregados. Quando 100% dos consumidores param de gastar por um único
mês, cria-se uma espiral recessiva imprevisível. Outra alternativa seria
alertar os 3% que talvez sejam demitidos para economizar, para que os 97%
possam manter normalmente suas compras evitando a espiral recessiva.
Na crise de 1929, 4.000 bancos quebraram, e a mera referência a 1929 como
fizeram Greenspan e Roubini, leva pessoas leigas a correr para os bancos, o
que aconteceu agora na Europa.
A imprensa perdeu a capacidade de filtrar e processar informação premida
pelo tempo exíguo para colocar tudo na internet. Publicam o que vier
especialmente se for notícia ruim.
Nenhum banco comercial irá quebrar, nenhum ainda quebrou nos EEUU, e mesmo
se forem um ou dois, nada se compara com 4.000. Bancos sempre quebram, mas
ninguém percebe. Mesmo se quebrarem, o seu dinheiro, ao contrário de 1929,
está no fundo DI e não no Banco. O Fundo DI está no SEU NOME e dos demais
cotistas, e se um banco brasileiro quebrar, o que não vai acontecer, seu
dinheiro está salvo. No máximo você terá de esperar uma semana para a troca
de administrador do seu fundo. O dinheiro está aplicado em títulos do
tesouro em SEU NOME, não do Banco.
Deixar o dinheiro onde está é o mais seguro. Se você resgatar o seu fundo
DI, o dinheiro cai na sua conta, e se o banco quebrar justo neste dia, você
vira um credor do banco. Nossos bancos estão recebendo depósitos dos
apavorados estrangeiros. Muita gente em pânico está saldando suas cotas em
fundos de ações e o seu gestor é OBRIGADO a vender uma ação mesmo com ela
caindo 20% no dia, algo que você jamais faria.
Acionistas majoritários não estão em pânico, nem podem nem querem vender
suas ações. Só os minoritários se sentem uns idiotas porque não venderam na
"alta".
Não temos bancos de investimento no Brasil.
De fato, Roberto Campos
implantou neste país este mesmo modelo americano que está ruindo, mas
felizmente foi uma lei que "não pegou". Problema a menos.
Só temos bancos comerciais, e estes são muito bem controlados pelo Banco
Central. Além do mais, nossos bancos têm dono, e por isto estão pouco
alavancados, 4 a 5 vezes, contra 20 a 25 vezes dos bancos de investimentos
americanos.
O Brasil não está alavancado. Nossos créditos diretos ao consumidor não
passam de 36% do PIB, e devem crescer para 40% no ano que vem. Os Estados
Unidos estão alavancados em 160% do PIB e é esta desalavancagem súbita que
está causando problemas.
Nosso Banco Central adotou o que venho alertando há anos a países e famílias
- a política de ter reservas para os dias de crise e hoje temos US$ 200
bilhões. Pela primeira vez o Brasil tem reservas para sustentar uma crise
duradoura, sem ter que se endividar para cobrir furos de caixa.
Temos um sistema financeiro dos mais modernos e rápidos do mundo implantado
devido à inflação galopante dos anos 90. Nos Estados Unidos demora-se duas
semanas para se descontar um cheque entre bancos, por isto o sistema travou.
Nenhum banco confia em outro banco numa crise destas.
Esta é a hora para disseminar a nossa força, as nossas reservas, a
competência de Henrique Meirelles, primeiro administrador financeiro
(Coppead) a comandar o nosso Banco Central, e já se nota a diferença. Está
na hora de mostrarmos ao mundo que, como a China e Índia, nós vamos crescer
via mercado interno, com produtos populares, tese que há anos venho
defendendo.
Esta é a hora de mostrar o que DÁ CERTO no Brasil em vez de conseguir fama
no rádio e na televisão mostrando o que poderia dar errado.
Lembre-se que os verdadeiros culpados já estão se movimentando para culpar
os inocentes, e assim saírem incólumes e mais poderosos.
Stephen Kanitz
lunes, 27 de octubre de 2008
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